Nos últimos dias, cenas de guerra voltaram a sacudir o Rio de Janeiro: relatos e imagens mostram mais de 100 pessoas — descritas pela polícia como integrantes de facções — tombando durante confrontos entre traficantes e forças de segurança. Para uns, é o resultado do trabalho firme do Estado; para outros, é uma chacina que expõe um padrão de violência e falhas na proteção de cidadãos. No meio desse fogo cruzado estão moradores de favelas, famílias e, muitas vezes, inocentes que nada tinham a ver com o conflito.
De um lado está o aparato do Estado — fardas, blindados, operações planejadas. Do outro, jovens e adultos que cresceram em comunidades com poucas oportunidades, onde o tráfico se apresenta como saída rápida para renda e poder. Entre essas extremidades surgem perguntas que não saem da boca de ninguém: a culpa é só da polícia? Dos governantes? Do modelo de segurança pública? Ou há outras mãos sujas nessa contabilidade de vidas perdidas?
Vozes se levantam em defesa de posições opostas. Há quem clame pela mão pesada do Estado: “bandido bom é bandido morto”, dizem alguns. Outros acusam as forças de segurança de executar moradores e intimidar comunidades inteiras. Há ainda quem aponte para uma raiz diferente — a economia clandestina das drogas — como motor da violência. O debate atravessa camadas sociais: estudantes de classe média que consomem drogas ilícitas pedem segurança, mas nem sempre fazem uma autocrítica sobre seu papel enquanto consumidores em um mercado proibido e violento.
A proibição transforma mercadorias em territórios de disputa. Onde há lucro sem regulação, há disputa — e disputa gera guerra. Facções lutam por controle, o Estado intervém, e as comunidades pagam o preço. Em operações, policiais buscam desarticular organizações; mas em ruas estreitas e casas amontoadas, a chance de vítimas inocentes é alta. Quando vidas inocentes são perdidas, a comoção abre caminho para acusações, investigações e uma pergunta amarga: quem realmente ganha com tanta morte?
Outro ponto sensível é o duplo padrão moral presente no debate público. Há quem compare a maconha ao álcool, afirmando que este último causa mais danos sociais — e não está errado ao apontar incoerências na forma como a sociedade criminaliza substâncias. Mas a discussão precisa ir além de slogans: precisa encarar como a ilegalidade alimenta uma economia violenta e como políticas públicas (saúde, educação, emprego) ausentes nas favelas empurram jovens para a criminalidade.
O vídeo que circula nas redes — não ligado diretamente à operação no Rio, mas exemplar pela dor que mostra — traz o desespero de uma mãe que perdeu o filho para a violência. A imagem é um espelho: famílias destroçadas, memórias interrompidas, comunidades encolhidas pela tragédia. Para quem vive ou pensa em entrar no mundo do crime, esse desespero deveria ser um aviso brutal: o custo humano é real e irreversível.
Então, vale a pena? Depende do olhar. Para quem busca sobrevivência imediata, o crime pode parecer uma alternativa. Para a sociedade como um todo, para as famílias e comunidades, o saldo é devastador: perda de vidas, medo, ruptura de laços e ciclo de vingança. A saída exige respostas complexas — reforma das forças de segurança, políticas sociais efetivas, debate honesto sobre a política de drogas e responsabilidade de consumidores, e punição dos excessos onde eles existirem.
Se houve excessos por parte da polícia, que se apure e que se julgue. Se há governantes ausentes, que a sociedade cobre. Se a ilegalidade gera guerra, que se discuta — sem tabu — alternativas que reduzam o mercado criminoso. Acima de tudo: que a dor das famílias não seja apenas um espetáculo de redes sociais, mas impulso para mudanças reais.
Comente: você acha que a solução passa por endurecer a repressão, mudar a política de drogas, investir em educação e emprego, ou uma combinação dessas medidas? Participe — sua opinião importa.
Por: Jefferson Teixeira
Redator-chefe — Blog Verdinho Itabuna