A soltura de oito ex-integrantes da banda New Hit um dia antes do Dia da Mulher, na quarta-feira-feira (7), foi considerado um “tapa na cara” por uma das jovens vítima de estupro coletivo cometido pelos acusados.
Em entrevista ao site G1, a vítima, que preferiu não se identificar, disse, nesta quinta-feira (8), que não esperava a decisão judicial que liberou cinco acusados do Complexo Penitenciário da Mata Escura, em Salvador, e outros três do Conjunto Penal de Feira de Santana, a cerca de 100 km de Salvador.
O caso ocorreu na cidade baiana de Ruy Barbosa, em 2012. Seis anos após o crime, do qual eles foram condenados a 10 anos e oito meses de prisão, eles foram beneficiados por um habeas corpus coletivo na terça-feira (6).
Os ex-integrantes da banda de pagode foram acusados de estuprar as jovens que atualmente têm 22 anos e tinham 16 anos à época do crime. Elas eram fãs da banda e o estupro teria ocorrido em um ônibus do grupo, onde elas entraram para uma sessão de fotos.
“A justiça deu um tapa na minha cara e na tapa de todas as mulheres na véspera do Dia da Mulher. A gente espera há cinco anos para a justiça acontecer e acabar esse clima de impunidade. A justiça prende eles apenas por cinco meses e solta para eles responderam ao crime de estupro em liberdade. Isso é um absurdo”, critica uma das jovens.
A vítima relatou que continua morando na Bahia, mas não detalhou local, por uma questão de segurança. A amiga dela, que também foi alvo do estupro coletivo deixou o estado logo após o crime. O local onde vive também não foi divulgado.
A jovem afirmou que a liberação dos oito acusados deixa uma sensação de insegurança, porque ela não sabe o que esperar. “Medo eu não tenho, porque eu tenho Deus comigo, então não tem como ter medo dos homens da Terra. Mas deixa um clima de insegurança, porque a gente não sabe o que esperar. A gente vive com insegurança e ficou muito insegura com o habeas corpus deles”, lamentou.
A jovem criticou ainda a declaração de um dos acusados ao deixar o presídio em Salvador, Alan Aragão, que afirmou que "a verdade vai aparecer, Deus é justo e nós respeitamos as mulheres".
“É ridículo ele dizer que eles respeitam as mulheres. Por eles sempre estarem batendo nessa tecla de que a verdade vai aparecer, a verdade já apareceu desde o nosso primeiro depoimento, então não tem outra verdade”, defende a vítima.
Ela conta que, seis anos após o estupro coletivo, ainda sofre os efeitos do crime cotidianamente. “Seis anos para as pessoas parece muito tempo, mas para a gente foi pouco. A gente não conseguiu retomar nossa vida. Para a gente é tudo mais difícil. A sociedade vê a gente com algum problema”, relata.
Ela afirma que teve dificuldade de continuar os estudos porque ouvia piadas dos colegas e teve que abandonar as aulas, o que prejudicou a busca por um emprego. Ela conta só ter retomado as aulas há pouco tempo, mas que ainda sente dificuldade de estar em uma sala em que a maioria dos alunos é homem.
A jovem relata que as piadas de mal gosto relacionadas ao caso acompanham ela até hoje, inclusive ouviu algumas a caminho da igreja há pouco tempo. “Um dia desses, vindo da igreja, indo para minha casa, tinha um grupo de meninos que começou a cantar a letra de uma música de New Hit. Eu pensei: ‘Meu Deus, seis anos passaram e parece que não muda nada”, conta.
Ela diz que tem a impressão de que a sociedade inverte os papéis e culpam as jovens pelo crime. “Parece que os papéis são invertidos, parece que a gente é estuprador e a vítima são eles. A gente é excluída da sociedade”, lamenta.
O G1 entrou em contato com o Ministério Público da Bahia (MP-BA) para apurar se a promotora do caso, Marisa Jansen, vai recorrer da decisão da justiça que liberou os acusados.
“Se a intenção da Justiça foi nos calar, eles não conseguiram, porque a luta continua, não desistiremos jamais”, afirmou a vítima. (G1)
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