segunda-feira, 27 de abril de 2020

Estudo da USP detecta novo Coronavírus em testículos de infectados

Um estudo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) parte da similaridade celular entre os pulmões, rins, testículos e epidídimos (ducto que coleta e armazena os espermatozoides) para buscar a presença do novo coronavírus no organismo. Um grupo da FMUSP que realiza necropsias em pacientes de covid-19 já detectou o vírus em testículo e glândulas salivares.

O professor Jorge Hallak, da FMUSP, pesquisador e coordenador do Grupo de Estudo em Saúde Masculina do Instituto de Estudos Avançados (IEA), explica que os pulmões possuem receptores denominados ACE-2, também presentes nos testículos, epidídimos e rins.

A partir dessas informações, o estudo se debruça sobre quais acometimentos sofrem esses órgãos, uma vez que se tornam portas de entrada do sistema corporal para o novo coronavírus, e busca entender o quanto são responsáveis pelo estado geral do paciente, conforme a USP.

“Ao estudar o porquê esse vírus entra nas células dos testículos, vamos tentar encontrar mecanismos que consigam inibir a ação do patógeno na célula. O paciente que está internado e não está grave pode, com o devido consentimento, ter o espermatozoide ejaculado e utilizado na pesquisa. Sendo uma célula que sai do corpo, não é preciso fazer biópsia ou outro exame invasivo”, afirma o médico.

Além de identificar se há ou não presença do vírus no sêmen, o estudo vai verificar em que estágio da doença o vírus se faz presente na ejaculação, afirma o professor Hallak.

Segundo o pesquisador, confirmada a presença no sêmen, o vírus poderá ser cultivado em laboratório para que seja analisada a sua viabilidade em outros fluidos. Com isso, será possível estudar “toda uma cadeia de testes para analisar os radicais de oxigênio (moléculas prejudiciais à célula) e um fenômeno que ocorre quando a membrana externa do espermatozoide sofre danos destrutivos”.


HOMENS SÃO MAIS VULNERÁVEIS

O pesquisador complementa que a doença tem uma característica particular já conhecida: uma tempestade de citocinas, que são substâncias altamente metabólicas, inflamatórias e imunológicas, então o indivíduo não morre pelo vírus, mas sim por seu efeito no metabolismo, causando uma reação inflamatória brutal.
Na sua avaliação, além de inédito, esse estudo tem grande relevância: “Já se conhecem alguns mecanismos de lesão no espermatozoide e nos testículos, e com a pesquisa poderemos, eventualmente, oferecer outro tratamento complementar para auxiliar na evolução dos pacientes no curto prazo”.

Hallak lembra que os homens são os mais suscetíveis à evolução para um quadro grave da covid-19, o que ocorre principalmente pelo fato de se prevenirem menos do que as mulheres e buscarem menos ajuda médica. “A interação do metabolismo desses indivíduos com fatores externos faz com que eles não tenham uma resposta imunológica ou inflamatória boa frente ao agressor.”

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