quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Carta aberta de Luiz Fernandes

 

Eu, Luiz Fernandes Ferreira Andrade, funcionário da Barry Callebaut, venho a público denunciar a perseguição que venho sofrendo pela empresa, que, de forma ilegal e autoritária, cortou meu salário e tentou me obrigar a assinar rescisão. Sou funcionário da empresa há 40 anos (quando ainda era Nestlé). Fui presidente do Sindicacau (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Ilhéus, Itabuna e Uruçuca) três vezes. Sou conhecido na região cacaueira pela minha luta intransigente em defesa dos trabalhadores.

Em 2013 a Barry Callebaut adquiriu a Petra Foods, que administrava a fábrica da Nestlé em Itabuna, vindo a se tornar a maior processadora de cacau do mundo. Segundo o site Brasil de Fato, a multinacional “explora de forma desavergonhada o trabalho infantil e o trabalho escravo em lavouras de cacau na Bahia e Pará. Nas cadeias produtivas dessas empresas, crianças e adolescentes perdem a vida para gerar lucros bilionários”. A repressão e perseguição ao movimento sindical é marca registrada da sua atuação.

Em outubro/2020 meu mandato de dirigente sindical se encerrou e eu me apresentei a Barry Callebaut para voltar ao trabalho. Fui chamado para uma reunião com a chefe do RH, Sirlene de Tal, e a gerente, Dayse de Tal, que me propuseram o pagamento do meu ano de estabilidade pós mandato, ticket alimentação, 13º e férias para que eu assinasse a rescisão. Não aceitei! Não assinei! Quero voltar a trabalhar, como a lei me faculta. A CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) me garante um ano de estabilidade pós mandato. Vale destacar que não é a primeira vez que a empresa tenta me demitir. Em 1991 a Nestlé entrou com uma ação na justiça para tentar me demitir (veja no verso), mas o processo foi arquivado.

Trata-se de uma perseguição clara da Barry Callebaut, porque sempre defendi os interesses da categoria. Recentemente denunciei que a empresa não estava fazendo exames (o chamado RT-PCR) para diagnosticar Covid-19 entre os trabalhadores, colocando sua produção em primeiro lugar, em detrimento das vidas de seus funcionários. A meu pedido, a Vigilância Sanitária e o Cerest (Centro de Referência em Saúde do Trabalhador) realizaram vistoria na fábrica e comprovaram o descaso com a saúde dos trabalhadores, o que culminou numa denúncia ao Ministério Público do Trabalho. Isso criou uma insatisfação na empresa, que viu sua imagem derreter.

Em meio à crise econômica e uma pandemia, a empresa desconsiderou o fato de eu estar retornando de uma licença médica em decorrência de uma delicada cirurgia e não depositou  (neste mês de dezembro) meu vale correspondente a 40% do salário nem o 13º. Por isso estou ingressando na justiça com pedido de reintegração e danos morais. 

A empresa age por vingança, pois não aceita que ninguém se interponha entre seu histórico de exploração e os trabalhadores da região. Mas não me dobrarão! Não me intimidarei! Minha luta é em defesa de todos os trabalhadores e trabalhadoras, por um desenvolvimento regional que se preocupe de fato com a qualidade de vida das pessoas e que contribua para a transformação real de nossa região. Por isso peço o apoio de toda a população regional e da sociedade organizada contra todos os desmandos dessa multinacional que explora o nosso povo com baixos salários e põe na rua os que ousam lutar por um salário decente e uma vida melhor. A injustiça que me fere hoje é a mesma que lhe golpeará amanhã! Só a luta transforma a vida!

Luiz Fernandes Ferreira Andrade

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