Passados quase um ano da eleição, a polarização do Brasil entre os adversários daquele pleito, o vencedor Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o derrotado Jair Bolsonaro (PI), segue intacta. Se dizem petistas convictos 29% dos eleitores, ante 25% que afirmam ser bolsonaristas raiz.
Ocupam zonas cinzentas 18% do eleitorado, 11% afirmando ser mais próximos do petismo e 7%, do bolsonarismo. O centro é declarado por 21%, e 5% rejeitam posicionamento. Só 1% não opinou.
É a quarta vez em que o instituto Datafolha busca mapear o espectro ideológico do país depois da eleição mais polarizada desde a redemocratização. Com a margem de erro de dois pontos para mais ou para menos, se vê uma flutuação mínima desde dezembro de 2022. Ante junho, o cenário nos extremos é idêntico.
A impermeabilidade do quadro ocorre mesmo com o bombardeio quase diário de notícias negativas acerca do ex-presidente, que já perdeu no Tribunal Superior Eleitoral o direito de disputar qualquer pleito até 2030 por sua campanha contra o sistema eleitoral brasileiro.
Ele enfrenta ainda investigações acerca de seu papel nos atos golpistas do 8 de janeiro e sobre o escândalo das joias que lhe foram dadas de presente por autoridades sauditas que, em vez da de ir para o arquivo da União, foram desviadas ou vendidas nos Estados Unidos por seu ajudante de ordens. Até aqui, ele trata as acusações como perseguição política, como seu ídolo político, o também ex-mandatário americano Donald Trump, que poderá disputar a eleição de 2024 mesmo se for preso.
Já Lula está em situação mais confortável, com 38% de aprovação segundo a mesma pesquisa. Mas seu governo enfrenta dificuldades na relação com o Congresso, tendo tido de ceder espaço no ministério para tentar cabalar votos do antes demonizado centrão.
Lula tem sido alvejado inclusive por sua base à esquerda, como no caso dos votos conservadores proferidos pelo primeiro ministro que indicou ao Supremo, seu ex-advogado Cristiano Zanin. Nada disso, contudo, alterou a coloração da paleta ideológica aferida pelo Datafolha.
Do ponto de vista dos diversos estratos da pesquisa há pouca diferença do que se atesta usualmente em levantamentos eleitorais ou de avaliação de governos. É uma transmutação do antigo mapa azul/vermelho que designou a prevalência do PSDB e do PT na política nacional, que vigorou de 1994 a 2014.
Os que se dizem mais petistas são moradores do Nordeste (44% no grupo, que representa 26% da amostra), os menos instruídos (44% entre quem fez até o fundamental, 28% dos ouvidos), mais pobres (37% entre os 51% que ganham até 2 salários mínimos) e católicos (37%, 47% da amostra). Já os bolsonaristas mais convictos estão mais na classe média (33% dos que ganham de 5 a 10 salários mínimos, 8% da amostra), 33% entre os 14% que moram no Sul, 34% entre os 16% habitantes do Norte/Centro-Oeste e 38%, dos evangélicos.
O centro tem maior representatividade entre os jovens de 16 a 24 anos, 30% no grupo que representa 17% dos entrevistados, e aqueles 22% com curso superior (28% de opção pela categoria). O cenário é de grande dificuldade para o descolamento de um nome alternativo como de resto já vem sendo desde 2018.
*Igor Gielow - Repórter especial em São Paulo da Folha de São Paulo, especialista em política nacional e internacional.
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