Dentro de uma pequena garagem na cidade de Capim Grosso, a 278 km de Salvador, Antônio de Matos, de 43 anos, começou a construir o sonho de infância: um helicóptero. Com motor de carro e banco de ônibus, a aeronave construída nos últimos cinco anos deverá voar a 300 metros do chão e seu custo de produção ultrapassou R$ 28 mil.
De família humilde, Antônio só pôde estudar até o 6º ano do ensino fundamental. Depois, precisou trabalhar em uma fazenda e também atuou como encanador, eletricista, mecânico e pedreiro – profissão que exerce atualmente.
Sempre curioso por novos aprendizados e com facilidades com os números, Antônio na infância construía aviões com latas e pedaços de madeira. Em 2018, comprou um livro que o inspirou na montagem do helicóptero e contou com o apoio de conhecimentos coletados na internet.
“Comprei um livro, fui para a internet e conheci muitos pilotos que me apoiaram. Eles me ajudaram com o projeto e me incentivaram a continuar”.Antônio se divide entre o trabalho de pedreiro e a construção do helicóptero, feito durante as madrugadas. Ele aprendeu os conceitos de aviação e foi o responsável por toda a parte elétrica, mecânica e arquitetônica do projeto.
Para executar o projeto, cortou gastos e passou a andar a pé para comprar as ferramentas e materiais necessários.
Apesar dos custos estarem acima dos R$ 28 mil, é possível afirmar que o baiano está economizando: no mercado, um helicóptero é vendido a partir de R$ 1 milhão. Famoso em Capim Grosso, o helicóptero de Antônio está praticamente concluído. Com 220 kg, a aeronave comporta apenas uma pessoa e deverá voar na altura de 300 metros, o equivalente a 1.500 pés.
Feito com motor de fusca, bastante usado em aeronaves pequenas no meio da aviação, o baiano pretende turbinar a tecnologia para que o helicóptero fique mais potente.
Além disso, a aeronave é revestida com fibra e ferro. Para o baiano, o material mais indicado na construção seria alumínio aeronáutico, mas além de ser bastante caro, ele não é encontrado em Capim Grosso.
O objetivo é que o helicóptero voe durante duas horas, uma distância de até 300 km. Apesar disso, Antônio não deseja ir para nenhum local específico. A satisfação do projeto está na construção.
“Saber que voou feito pela minha mão, vale demais”.
A primeira vez que o baiano voou em uma aeronave foi neste ano, ao ser convidado para participar de um encontro de aviação no Rio Grande do Norte. Ele fez o trajeto pela estrada, mas no evento teve a oportunidade de andar em diversos modelos. A felicidade foi tanta que Antônio chegou a pensar que, se morresse naquele momento, morreria feliz.
Regulamentações na aviação experimental
De acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), aeronaves como a de Antônio, que foram construídas pelos próprios donos, se enquadram como "experimental". Segundo o baiano, ele não precisou pedir autorização para construí-la, porque pesa menos que 250 kg. A agência confirmou que as aeronaves também são classificadas pelo peso.
Além disso, A ANAC solicita que o construtor guarde todos os comprovantes de aquisição do material, ferramentas e gabaritos usados, além de registrar todo o processo de produção, pois vistorias podem ser feitas posteriormente.
Para pilotar o helicóptero, será preciso um certificado de autorização de voo experimental emitido pela agência.
Caso o certificado seja concedido, o baiano precisará entrar em contato com o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) para entender em qual local e em quais condições poderá levantar voo.
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