quarta-feira, 9 de julho de 2025

Número de homens vítimas de estupro na Bahia cresce 95% em dez anos

 

Nos últimos dez anos, a Bahia foi palco do crescimento expressivo de casos de violência sexual contra homens. De 2015 a 2024, o número de ocorrências de estupro de pessoas do sexo masculino aumentou 95%, saindo de 296 para 578 registros, conforme dados disponibilizados pelo Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas (Sinesp), vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP).

Ao ampliar o recorte temporal até maio deste ano – mês do dado mais recente computado pelo Sinesp –, é possível verificar que os casos seguem crescendo mês a mês, sem nenhuma queda desde o início da série histórica. Ao total, o estado já contabiliza 4.443 casos de estupro entre 2015 e 2025.

O episódio mais recente de estupro ocorrido na Bahia e divulgado na mídia ocorreu no último 18 de maio, quando um homem foi atacado a caminho de casa, quando retornava de um bar, na zona rural de Malhada, município localizado no sudoeste da Bahia. A vítima, que estava alcoolizada, foi imobilizada e estuprada por mais de um homem, na rua. Ele não prestou queixa, mas o caso gerou revolta e mobilização na cidade.


Casos subnotificados

Para Marinho Soares, advogado criminalista e ex-gestor em Segurança Pública e Justiça Criminal pela Universidade Federal Fluminense (UFF), o aumento progressivo de registros de violência sexual contra homens pode estar relacionado ao incentivo à denúncia que, mesmo insuficiente para dar conta de todos os casos, ainda é uma prática endossada por autoridades e pela sociedade.

A falta de denúncia nesses casos não é incomum. Marinho Soares ressalta que ocorrências de estupro já são popularmente subnotificadas, uma vez que a violência costuma gerar constrangimento na vítima, sendo este um sentimento intensificado quando a pessoa violentada é do sexo masculino.

“Nossa sociedade é muito machista e isso faz com que as pessoas entendam que homens não são violentados sexualmente, atrelando isso à masculinidade. Inclusive, homens são estuprados como forma de vingança outros grupos de homens, que acreditam estar tirando a masculinidade da vítima quando praticam tal ato. Por isso, o grande fator [para não denunciar] é a vergonha, porque as pessoas que são abusadas têm vergonha de relatar”, aponta Marinho.

Anderson Reis, professor da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e pesquisador sobre a saúde do homem, afirma que há evidências de que o Brasil ocupa a lista dos cinco países como maior registro de denúncia de violência sexual. Ele acredita que, no que diz respeito às vítimas do sexo masculino, há um desencorajamento em reconhecer que vivenciaram situações de violência pela dificuldade de tratar da problemática.

“Em muitos cenários, eles não tiveram alcance a estratégias de enfrentamento, como com quem conversar, onde denunciar, a quem recorrer para cuidar da saúde. Ressalta-se que muitos homens vivenciaram estupro na infância e podem ter experenciado a violência em contextos desfavoráveis, hostis e difíceis de acesso à recursos individuais, familiares e sociais de apoio à notificação da ocorrência do estupro tendo os homens como vítimas”, pontua.


Saiba como denunciar

Casos de estupro podem ser denunciados de forma presencial em qualquer delegacia, seja virtual ou física. Também é possível acionar o Disque 100 ou o número 180, central de atendimento à mulher, que funciona 24 horas, de forma gratuita e sigilosa.

Antes da denúncia, é importante que a vítima busque atendimento médico imediato, tanto para cuidados de saúde quanto para a coleta de provas que podem ser fundamentais para a investigação.

A reportagem procurou a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) para saber quais iniciativas estão sendo desenvolvidas para frear e alertar para casos de estupro de homens, bem como para atuar no acolhimento às vítimas. A pasta não retornou até o horário de publicação da matéria. (Correio 24h)

Um comentário:

  1. Os que fazem isso ainda não saíram do armário.
    E as vítimas estamos solidários com voces, busquem ajuda com terapeutas.

    ResponderExcluir