A morte brutal de três trabalhadores chocou Salvador e reacendeu o debate sobre a violência enfrentada por profissionais que atuam em áreas dominadas pelo crime organizado. Ricardo Antônio da Silva Souza, de 44 anos, Jackson Santos Macedo, de 41, e Patrick Vinícius dos Santos Horta, de 28 anos, foram encontrados mortos na noite de terça-feira (17), no bairro do Alto do Cabrito, no Subúrbio Ferroviário da capital baiana.
Os homens trabalhavam juntos em um serviço de instalação de internet no bairro de Marechal Rondon, vizinho ao local onde os corpos foram deixados. Segundo a polícia, eles teriam sido levados por criminosos enquanto estavam em serviço. O caso é investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e corre sob sigilo. Até o momento, ninguém foi preso.
Quem eram as vítimas
As três vítimas atuavam no setor de telecomunicações. Patrick Vinícius, o mais jovem, estava apenas no segundo dia de trabalho. Pai de um menino de 7 anos, ele morava no bairro de Castelo Branco, praticava jiu-jítsu e havia passado seis meses desempregado antes de conquistar a vaga.
Ricardo Antônio trabalhava há cerca de três anos na empresa Planet Internet, exercendo a função de motorista e instalador. Morador da região da Rótula do Abacaxi, deixou uma filha de 14 anos. Já Jackson Santos era casado, morava no Lobato e tinha um filho de 19 anos.
Vídeo:
Os corpos de Ricardo e Jackson foram sepultados na quarta-feira (17), no Cemitério Bosque da Paz, em Nova Brasília. Patrick foi enterrado nesta quinta-feira (18), no Cemitério Vale da Saudade, em Candeias, na Região Metropolitana de Salvador. As despedidas foram marcadas por forte comoção de familiares, amigos e colegas de trabalho.
Linhas de investigação
O secretário de Segurança Pública da Bahia, Marcelo Werner, afirmou que determinou prioridade máxima às investigações. Em entrevista, classificou o crime como “bárbaro, violento e covarde” e garantiu que as forças de segurança não irão descansar até identificar os responsáveis.
Uma das linhas apuradas é a suspeita de que os trabalhadores tenham sido mortos como forma de “punição”, após a empresa para a qual prestavam serviço supostamente não pagar um tipo de “pedágio” exigido por traficantes para atuar na região. O carro utilizado pela equipe e os pertences das vítimas foram encontrados na quinta-feira (18), na localidade de Granjas Rurais, próximo a Marechal Rondon.
A delegada Lígia Nunes de Sá, diretora do DHPP, explicou que nenhuma hipótese é descartada, embora ainda não existam provas concretas sobre a cobrança criminosa. Ela também destacou que as vítimas não possuíam antecedentes criminais e pediu apoio da população com informações que ajudem a esclarecer o caso. Denúncias podem ser feitas, de forma anônima, pelo telefone 181.
Em nota, a Planet Internet negou ter recebido qualquer pedido de resgate ou cobrança para atuação na localidade e informou que colabora com as autoridades.
Protestos e revolta
A execução dos trabalhadores gerou protestos ao longo da quarta-feira. Pela manhã, profissionais do setor de internet realizaram uma carreata pela Avenida Paralela, após reunião com representantes da Secretaria de Segurança Pública, provocando lentidão no trânsito.
À noite, familiares das vítimas voltaram às ruas após os sepultamentos de Ricardo e Jackson. O protesto ocorreu na região da Rótula do Abacaxi, onde parte da via foi interditada com objetos em chamas, causando congestionamento e chamando a atenção para a revolta e o sentimento de insegurança.
Repercussão oficial
O governador Jerônimo Rodrigues (PT) classificou o crime como “brutal e inaceitável” e afirmou que a violência fere o direito básico de viver e trabalhar em paz. Ele garantiu rigor nas investigações e se solidarizou com os familiares das vítimas.
O Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações da Bahia (Sinttel-BA) também manifestou indignação. Para a entidade, perder a vida no exercício da profissão é algo inadmissível. O sindicato cobrou uma apuração rápida e rigorosa e anunciou que vai solicitar uma audiência pública com o Ministério Público do Trabalho para discutir medidas de proteção aos profissionais do setor.
A empresa Planet Internet informou, ainda, que está consternada com o ocorrido e que vem prestando apoio às famílias dos funcionários assassinados.O caso segue sob investigação e expõe, mais uma vez, a vulnerabilidade de trabalhadores que apenas exerciam suas funções quando tiveram suas vidas interrompidas de forma violenta.







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